Dizer que o 3G no Brasil é ruim pode parecer “chover no molhado”. Mas a gente não se contenta; nem aceita – afinal pagamos caro; bem caro! Fomos entender porque a banda larga móvel no Brasil é tão inferior à qualidade dos serviços oferecidos em outros países. Conversamos com dois especialistas em telefonia móvel para entender onde está o problema. A surpresa é que não existe uma lista de problemas; pelo contrário, é até fácil resumir o porquê do nosso 3G ser tão ruim. Quer dizer, parece simples, mas é complicado.
O primeiro motivo pela baixa qualidade do serviço de banda larga móvel, acredite, somos nós mesmos. Calma, não é bem assim, afinal a gente paga a conta. A questão é que as operadoras não estavam preparadas para o crescimento exponencial da demanda por uso de dados nos telefones celulares, principalmente nos smartphones. Se antes acessávamos basicamente e-mails e algumas páginas mais leves, hoje o conteúdo é muito mais pesado; estamos o tempo todo conectados em redes sociais, continuamos checando o e-mail e ainda compartilhamos e consumimos fotos e vídeos o tempo todo.
“A infraestrutura não acompanhou. Há um gargalo nas operadoras, não só nesta questão de volume de ERBs. Se você considerar que a AT&T, nos EUA, sozinha, tem mais ERBs do que as cinco maiores operadoras brasileiras numa área geográfica parecida, notamos que há carência”, afirma João Lopes Neto, dir. operações / BFT Telecomn.
O número de usuários também cresce diariamente. Para quem não ouviu falar, ERBs são as Estações Rádio-Base; as antenas de telefonia móvel espalhadas pela cidade. Cada estação tem capacidade para um número “X” de usuários. Conforme aumenta o congestionamento naquela estação, o raio de alcance diminui para tentar atender todos os usuários mais próximos – claro, nem sempre isso é possível. Isso explica porque um dia o sinal está ótimo em um determinado lugar e, em outros horários, fica impossível usar o 3G ali; muita gente tentando se conectar ao mesmo tempo. A infraestrutura não dá conta…
O Brasil possui cerca de 64 mil Estações Rádio-Base espalhadas pelo país; metade do número de ERBs do México, por exemplo. Tudo bem, mas então porque as operadoras simplesmente não instalam mais antenas? Simples! Nem tanto…
Essa equação não está só nas mãos das operadoras, que afirmam que investem cerca de 20% da sua receita líquida em melhorias na rede. Leis restritivas proíbem a instalação de novas antenas em muitos lugares. E a burocracia verde-amarela faz com que cada município possa criar sua legislação sobre instalação de antenas – atualmente são mais de 250 leis sobre o tema…
“Uma lei de antenas únicas está parada no Congresso Nacional. Hoje, uma licença para conseguir uma ERB leva de 12 a 18 meses. Então, além da demora da operadora em agir, o prórpio Estado cria barreiras para instação das ERBs”, completa João Lopes Neto, dir. operações / BFT Telecom.
Mas ainda assim, mesmo se as operadoras saíssem instalando novas estações rádio base Brasil a fora, acredite, o problema não seria resolvido. Continuaríamos com um 3G ruim (pra não dizer péssimo em alguns casos). Primeiro porque para o problema de grandes concentrações, não é uma torre a mais que vai resolver.
“Existem duas maneiras de resolver: uma, que é a principal, é partir para uma tecnologia de maior capacidade. A outra, que está ligada à melhoria da cobertura, são estas soluções de células menores. Por exemplo, a única maneira de garantir que um monte de usuários em um estádio da Copa possa navegar durante o jogo é tendo um esquema de antenas distribuídas e compartilhadas que aumentem muito a capacidade. Se você tiver só uma torre, não consegue atender nem 10% do tráfego”, analisa Eduardo Tude, presidente / Teleco.
E, pior, o maior gargalo da banda larga móvel de terceira geração – acredite – não está entre o smartphone e a antena, mas sim na infraestrutura para transportar esse enorme volume de conteúdo que consumidos e trocamos diariamente. O fluxo de dados é muito maior do que a capacidade de transmissão permite. Isso é primordial e, segundo nossos entrevistados, se não for resolvido, não é o 4G que vai mudar esse cenário. Afinal a tecnologia de banda larga móvel de quarta geração só altera a capacidade entre o smartphone e a estação rádio base.
Um dos sócios de uma empresa de teste e medição em telefonia móvel presente em diversos países, que atualmente mora nos Estados Unidos, tem uma visão interessante sobre a qualidade dos serviços de telefonia móvel aqui no Brasil.
“Nos Estados Unidos, a gente não suporta serviços ruins. Os brasileiros são muito mais tolerantes com a má qualidade do serviço”, afirma Kamran Kashi, CEO / Gladiator Innovations.
“Não é que o 3G não funcione; em certos momentos, ele é inexistente. Então não dá para confiar no 3G, inclusive em casa, onde é sempre bom estar com o wi-fi ligado. Quando você está fora do Brasil, percebe que a gente infelizmente se nivela por baixo e aceita com tranquilidade um nível baixo. Acho que a primeira coisa que tinha que acontecer no Brasil é a reclamação”, afirma Josef Prado, analista seg. informação.
“Vai levar um tempo para chegar naquela situação onde nós queremos, de ter tudo no celular numa velocidade agradável e satisfatória”, diz Tude.
Resta torcer para que a burocracia facilite o lado das operadoras e estas façam seu papel, quem sabe assim a gente tenha um 4G um pouco menos “manco” do que o legado que o 3G deixou para os brasileiros…
Fonte: Olhar Digital