
Quando eu era criança pequena lá em Gurupá-mirim (tempos idos), não existia computador, wat zap, muito menos menino na rua caçando pokemon, a gente gostava de caçar mesmo era tanajura. “Cai, cai, tanajura, na panela de gordura”, eu não gostava de comer, mas achava um barato caçar tanajura, confesso que uma vez cheguei a experimentar por curiosidade, diziam que fazia bem a saúde. Dia de domingo à tarde, todo mundo sentava na calçada com uma bacia de laranja, uma faca e um punhado de sal, eita delícia! Aliás, menino naquele tempo vivia era na rua mesmo, brincando (cai no poço, três, três passará, derradeiro ficará…, eu morava na areia, sereia e outras cantigas de roda…), aprontando, caindo, se arranhado, levantando e aprendendo. Aprendendo a viver, hoje tudo é tão diferente, menino na rua hoje, ave Maria! Meninos hoje vivem em casa, creches, escolas, trancados, aprendendo, conectados, em tão poucos anos (não sou tão velha assim), muita coisa mudou na mesma velocidade que a tecnologia avançou, mas outras coisas parece que demoram séculos para serem mudadas, velhos hábitos, vejo isso com a política desse país, naquela época quando chegava um político na cidade era um evento, hoje ainda é, naquela época política pensava que podia enganar o povo com qualquer ninharia ou barganha, ainda hoje muitos continuam assim, naquela época tinha políticos que eram verdadeiros coronéis a quem o povo deveria temer e obedecer, até hoje muitos são assim “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Mas, voltando a vida de criança daquele tempo, meninos e meninas podiam brincar nas ruas sem a ameaça de uma bala perdida ou um traficante querer coopta-los para o mundo do crime, aliás mundo do crime para nós era seriado das PANTERAS, no máximo, hoje uma mãe não pode ficar em paz em deixar suas crianças brincarem na porta de casa, porque “perigos a por toda parte”, sei que perigos sempre existiram, mas por favor vamos devolver as crianças o direito a infância, o direito de meninos e meninas viverem suas meninices, suas idiossincrasias, que só é possível em contato com a terra, com a natureza, com brinquedos que dão vazão a sua imaginação (bonecas, carrinhos, gudes, panelinhas, bola, carrinho de madeira) sei que as crianças de hoje são diferentes, sei que elas gostam de aparelhos tecnológicos, mas também sei que não há uma criança que resista uma praça com areia, balanço, uma bola, uma boneca de pano, qualquer coisa que faça ela imaginar, criar, correr e extravasar as energias contidas, afinal, ser criança é ser livre.
Rosangela Nascimento