Todos os anos, milhares de pessoas se mudam para Brasília. Grande parte vem para exercer atividades ligadas ao Poder Público, tomando posse em algum cargo. Trata-se da capital do país e é muito natural que o fluxo seja grande, e proveniente de todas as regiões, especialmente de Minas, Rio de Janeiro e dos estados do Nordeste.
A pergunta que todos se fazem, seja os que estão chegando, seja os que ainda estão se decidindo, é se vale a pena morar na capital federal. A resposta é: sim, vale muito a pena. Mas é preciso que cada um reflita individualmente, levando em consideração vários fatores, dos quais os mais importantes, claro, são a remuneração e o custo de vida.
Para ajudar aqueles que ainda estão em dúvida, algumas seguem alguma dicas.
1 – O custo de vida
O custo de vida em Brasília é alto. Não sou especialista em finanças, mas posso dar um panorama do quanto se gasta para viver na capital. Primeiro: grande parte desse custo quem determina é você, com seu estilo de vida. Duas pessoas podem ter custos básicos semelhantes (aluguel e alimentação, por exemplo), mas bastante distintos em outras coisas (lazer, viagens, vestuário, etc). Isso significa que você deve levar em consideração como pretende viver.
Vamos aos custos básicos. Imóvel em Brasília, seja para comprar, seja para alugar, é caro. O aluguel de um apartamento de 2 quartos com garagem no Plano Piloto gira de R$ 2 mil a R$ 2.500. De 1 quarto, vai de R$ 1.500 a R$ 2 mil. E quitinetes, em torno de R$ 1 mil (vazias) e de R$ 1.500 (mobiliadas). Em Águas Claras e no Guará esses preços caem um pouco, e à medida que se vai ficando mais distante do Plano, vão caindo mais. A escolha do local para morar depende basicamente da renda disponível. Em geral, quem pode, mora no Plano Piloto, para poder ficar mais perto do trabalho e enfrentar menos trânsito. Mas em locais um pouco mais distantes, como Taguatinga e Sobradinho, é possível achar apartamentos e casas maiores a preços melhores. Quem não se importar com trânsito pode optar por eles. Para ter uma ideia mais precisa dos preços dos aluguéis, navegue pelo site www.wimoveis.com.br.
Já peso da alimentação não difere muito das demais capitais, mas também é caro. É muito difícil dar uma média, pois varia muito. Se você não for muito exigente, poderá encomendar um marmitex por R$ 6. Um almoço executivo em restaurante de rede gira em torno de R$ 25. Uma compra de mês para duas pessoas fica em torno de R$ 400 no Plano Piloto (em Águas Claras e nas outras cidades é mais barato).
O transporte também depende dos hábitos de cada um. É possível viver com um tanque de gasolina por mês se o veículo for 1.0, o cidadão morar no Plano Piloto e sair apenas para trabalhar. A gasolina, atualmente, custa R$ 2,99 o litro.Quem mora em Ceilândia, Taguatiga, Águas Claras, Guará ou Asa Sul tem a o metrô como opção. Ônibus existem, mas são um sofrimento que não se deseja a ninguém.
Ou seja: faça cuidadosamente as contas. Lembre-se de que o Imposto de Renda ficará com uma fatia do seu redimento. Descubra quanto será seu salário líquido (já descontando o IR e a previdência). Um salário líquido de R$ 3 mil permite a uma pessoa solteira viver em uma quitinete e sem chance de fazer poupança. Em geral, vale mais a pena morar em Brasília se o salário for, no mínimo, de R$ 5 mil líquidos, mas ainda assim não pense que poderá se dar luxos. Não é impossível morar com menos, mas é menos compensador, pois ganhando menos do que isso, a qualidade e o nível de vida caem, e a capacidade de poupança também.
Deve-se considerar também se o sujeito vai morar sozinho ou dividir apartamento, se vai ter outras despesas ou outras fontes de renda. Há muitos fatos que devem ser ponderados.
2 – A Qualidade de vida
Aqui está o grande ponto a favor: a qualidade de vida em Brasília é alta. A cidade é realmente muito bonita, bastante arborizada, limpa e sempre colorida. O Plano Piloto ainda tem um bom trânsito (embora isso esteja mudando). O problema dos congestionamentos, porém, é comum para quem precisa se deslocar para as cidades satélites ou para a região do Entorno (como são chamadas os municípios de Goiás que ficam ao redor do Distrito Federal) . Em termos de segurança, tem piorado, mas nada que se compare com as outras capitais. É possível caminhar pela maior parte de Brasília sem se preocupar com um assalto iminente. O ar não é poluído e a prática de esportes é coisa muito comum (o brasiliense se exercita muito). Para quem pensa em estudar, a Universidade de Brasília é muito boa. O setor de serviços ainda precisa melhorar, mas no geral é bom. A vida cultural é naturalmente inferior à de São Paulo, Rio de Janeiro e mesmo de Belo Horizonte, mas há sempre o que fazer.
Enfim, é uma cidade onde ainda é possível ter uma vida relativamente tranquila, com menos estresse do que nas maioria das grandes cidades e com acesso a tudo o que é preciso. É como se fosse uma cidade média do interior, mas com facilidades de capital.
3 – O Nível de vida
Em geral, o brasiliense é mão aberta e não costuma achar as coisas caras. Por isso, é preciso cautela para não acabar perdendo o controle das finanças. É fácil o acesso a marcas caras de roupas e a carros importados – não são muitas, mas há algumas Ferraris nas ruas. Viajar para o exterior é algo relativamente comum, assim como frequentar restaurantes caros (R$ 50 por pessoa em um restaurante é tido como barato – mas há muitos lugares mais baratos que isso). Algumas pessoas se sentem tentadas ou instigadas a acompanhar quem pode gastar assim e acabam não conseguindo economizar. Mas é uma decisão de cada um.
4 – O clima
Duas características marcam o clima de Brasília: é uma cidade quente e seca. Mesmo no inverno a temperatura durante o dia não cai abaixo de 20º, embora possa chegar a 13º de madrugada. No verão, está sempre em torno de 30º ou mais. Entre maio e outubro, não cai uma gota de chuva na cidade e especialmente em agosto e setembro o clima é desconfortável – mas é possível aprender a conviver com isso. Quando chega o final de outubro começam as chuvas, que vão ganhando ritmo até o começo de dezembro – e daí até fevereiro chove quase todo dia, e muito. Ou seja, em Brasília há duas estações: a Seca, de maio a outubro, e a Chuva, de outubro a abril, com períodos de maior intensidade dentro de cada uma.
5 – O povo
O brasiliense tem fama de ser frio, mas isso não é bem verdade. Fui muito bem acolhido quando cheguei há oito anos e fiz excelentes amigos. No primeiro contato, o brasiliense pode ser meio desconfiado, mas isso muda quando ele se habitua com você. Ainda assim, não se espante se você jamais descobrir o nome de seu vizinho: nas cidades grandes, isso, infelizmente, é coisa corriqueira. É importante dizer que nada irrita mais um brasiliense, e com razão, do que o preconceito que relaciona a cidade aos políticos. Quando alguém fala que em Brasília ninguém presta, vai ouvir que o Distrito Federal só tem oito deputados e três senadores – todos os outros vêm de fora.
6 – As peculiaridades
O primeiro contato com Brasília sempre causa estranhamento. A cidade é muito diferente das demais: a forma como se organiza, os endereços, a arquitetura, mas é fácil se habituar a tudo isso.Já pessoas mais velhas, vindas do interior, têm dificuldade de se acostumar: Brasília é feita para se andar de carro e, embora sempre haja muita gente fazendo cooper, não se veem pessoas caminhando na rua com freqüência, nem jogando conversa fora nas portas das casas. As coisas são longe umas das outras e isso promove um certo distanciamento humano também. Pessoas mais jovens se acostumam mais facilmente e aprendem a gostar muito da cidade.
7 – Viagens
Uma pergunta que a pessoa que pensa em morar em Brasília deve se fazer: é fácil visitar a família? Para quem mora no Sudeste, sim, pois há vários vôos para Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitória e São Paulo. Para as demais capitais também há, mas são mais caros. Para quem mora no interior de Minas ou de Goiás há ainda a opção de viajar de carro ou de ônibus. O trajeto Brasília-BH leva de 9h (carro) a 11h (ônibus).
8 – Um adendo para os católicos
Para quem é católico, Brasília tem um atrativo especial: uma Igreja jovem e efervescente. Há quase 130 paróquias em todo o Distrito Federal e igrejas não faltam. A Catedral e o Santuário Dom Bosco são as mais belas. A todo momento está acontecendo uma missa e as paróquias são próximas, de modo que é possível escolher a mais adequada para os padrões de cada um. Além disso, há incontáveis movimentos leigos e não é difícil se engajar em um. Também há várias rádios católicas e eventos interessantes ocorrendo o tempo todo.
Concluindo:
Brasília é uma excelente cidade para se viver, que ainda conserva certa calma interiorana. Tem muitos problemas, mas que cidade não tem? O fator decisivo é, realmente, a diferença entre a renda e os gastos.
Se você decidir se mudar, seja bem vindo!
