Waldir foi um dos quadros mais importantes da esquerda brasileira. Foi consultor geral da República no governo João Goulart, entre 1963 e 1964, e ministro da Previdência no governo José Sarney entre 1985 e 1986.
Em 1986 foi eleito governador da Bahia pelo MDB e ficou no cargo até 1989, quando descompatibilizou-se para tentar ser candidato a presidente da República. Acabou disputando as eleições como candidato a vice na chapa liderada por Ulisses Guimarães.
Foi deputado federal e passou por partidos como PDT e PSDB até filiar-se ao PT. Foi ministro da Controladoria Geral da União e da Defesa no governo Lula.
Em 2012, aos 85 anos, foi eleito vereador em Salvador, cumprindo mandato até 2016, quando saiu oficialmente da vida pública.
BIOGRAFIA DE WALDIR PIRES
Homens públicos que mereçam admiração e reverência são raridades em nosso país e, pelas notícias que nos chegam, escasseiam também pelo mundo afora.
Em tais circunstâncias, pode parecer óbvio que, diante dos raros exemplares que identifiquemos, a atitude deva ser a do reconhecimento e respeito, tratando-se, como cumpre tratar esses raros casos, como verdadeiras referências ou padrões de conduta. Inspiração e modelo para os mais novos, prova real de que é possível ter homens públicos íntegros, razão para não perder a confiança no regime democrático.
Faz pouco tempo, deixou o governo uma dessas figuras raras, Waldir Pires. Secretário de Estado aos 24 anos e deputado estadual aos 28. Deputado federal aos 30. Aos 36, consultor-geral da República no governo João Goulart, ao lado de quem permaneceu até 31 de março de 1964, dia do golpe militar que derrubou o governo democrático. Exilado no Uruguai e depois na França, retornou ao Brasil em 1970, voltando, após a anistia, para a sua Bahia, onde começou tudo novamente, com a mesma disposição da adolescência.
Homem de muitas caminhadas, primeiro na campanha para o Senado, em 82, pelo velho PMDB, depois para o governo do Estado, em 86, aí com estrondosa vitória contra adversários históricos antes considerados imbatíveis. Nesse entretempo, Waldir dirigiu, com grande êxito, o Ministério da Previdência, para o qual fora convidado por Tancredo Neves.
Deixou-o para assumir o governo baiano, de onde sairia para acompanhar Ulisses Guimarães como vice em sua chapa presidencial. Depois, deputado federal mais duas vezes e, com a vitória de Lula em 2002, ministro chefe da controladoria-Geral da União, onde construiu esta instituição que hoje é orgulho do nosso país, no enfrentamento da corrupção e na vigilância do dinheiro público federal. Por fim, ministro da Defesa, onde dava os primeiros passos para implantar um ministério até então de existência apenas formal. Esse projeto, como se sabe, foi interrompido e inviabilizado por uma grave crise no setor aéreo, cujas raízes antecedem de muito sua breve gestão.
A trajetória política e administrativa de Waldir Pires foi marcada, sobretudo, pela retidão de sua invariável conduta, pela inteireza do seu caráter e pela firmeza do seu compromisso com os verdadeiros interesses do povo brasileiro. Para servir a esses interesses, ele sabia, sempre, dar-nos lições de perseverança, de paciência e do que mais fosse necessário para jamais esmorecer.
A história é testemunha da solidez de suas convicções democráticas e sua visão clara da perspectiva histórica da evolução dos povos que eram expostas a todos nós, a um só tempo, como convite à reflexão e estímulo à persistência na luta política, na luta por ideais que pareciam inatingíveis, mas aos quais ele jamais renunciara.
De igual modo, seu exemplo pessoal de desprendimento, de renúncia aos confortos da acomodação e de compromisso com seus ideais, sua biografia de homem público raro, enfim, constituem legado que não pode ser negligenciado nem esquecido. Ele é, e será sempre, um exemplo e um modelo que não podemos nos dar ao luxo de perder de vista.
O País sabe que precisa cultivar um vulto político como o de Waldir Pires, após mais de 60 anos de vida pública.